4 de novembro de 2013

Mrs. Dalloway - Virginia Woolf

A narrativa de Mrs. Dalloway, romance de Virginia Wollf, se estende ao longo de um único dia e constitui um dos textos definidores da Londres modernista. Acompanha os movimentos paralelos, em torno de Regent's Park, dos dois personagens principais: Clarissa Dalloway é uma socialite, mulher do político conservador Richard Dalloway. Septimus Warren Smith, por sua vez, é um traumatizado veterano da primeira Guerra Mundial. A passagem do tempo no romance, pontuada pelas badaladas de um gigantesco e fálico Big Ben, conduz o leitor a um duplo clímax: o sucesso da ilustre festa de Clarissa e o suicídio de Septimus, incapaz de se adaptar ao mundo do pós-guerra.
Boa parte do impacto do livro deeriva da incompatibilidade de suas duas metades, refletida no espelho físico da própria cidade. Duas pessoas diferentes vão tocando suas diferentes vidas (uma, se preparando para o suicídio; outra, para um jantar), e não há, tal como sugere o romance, uma ponte possível entre elas. Septimus e Clarissa estão separados por classe social, sexo e geografia, mas, ao mesmo tempo, a capacidade do romance de se descolcar entre as duas consciências sugere uma espécie de conexão subterrânea e íntima entre elas, evidenciada pela reação de Clarissa à notícia da morte de Septimus. Alheio ao tempo cronológico imposto pelo Big Ben, um espaço poético permeia a cidade, sugerindo uma nova maneira de se pensarem as relações entre os indivíduos. Mrs Dalloway é um romance de contradições: entre homens e mulheres, entre ricos e pobres, entre o eu e o outro, entre a vida e a morte. Por outro lado, na tênue possibilidade de um vínculo pético entre Septimus e Clarissa, aponta para uma reconciliação, que ainda estamos por ver, entrte essas mesmas contradições.

 
Sobre a autora:
Nascida Adeline Virginia Stephen, é a terceira de quatro filhos, de uma família de classe média alta em Kensington, bairro de Londres. Do ponto de vista literário, suas origens eram promissoras. O pai, Leslie Stephen, descendia da aristocracia intelectual da Inglaterra vitoriana. Ele próprio fazia críticas e foi o primeiro editor do Dictionary of National Biography, além de ser viúvo da filha mais velha do romancista William Makepeace Thackeray. Dessa forma, apesar de não receber educação formal, Woolf cresceu cercado por livros e intelectuais. Pela sua primeira residência passaram visitantes como Henry James, George Eliot e George Henry Lewes. Por isso, não chega a ser uma surpresa que ela tenha decidido se tornar escritora ainda criança.
Os repetidos colapsos nervosos que acometeriam Woolf ao longo da vida costumam ser atribuídos à perdas sofridas por ela ao fim da infância, e muitas especulações foram feitas acerca do impacto dos abusos sexuais que sofreu dos meios-irmãos sobre seu equilíbrio mental. Quando tinha 13 anos, a mãe morreu repentinamente, tragédia seguida dois anos depois pela morte da meia-irmã. Golpe ainda mais sério foi a morte do pai, em 1904.
Um diagnóstico em retrospectiva poderia indicar que a escritora sofria de transtorno bipolar, condição que a levou a se afogar nas proximidades de sua casa em Sussex quando tinha apenas 59 anos e se encontrava deprimida com a Segunda Guerra Mundial.
Na juventude, a casa dela em Gordon Square se tornou ponto de reunião dos integrantes do Grupo de Bloomsbury, uma turma de artistas e intelectuais livre-pensadores. Entre os membros mais destacados estavam John Maynard Keynes, Lytton Strachey, E. M. Forster, Clive Bell e Lonard Woolf, com quem se casou em 1912. O casal criou a Hogarth Press, editora dedicada à publicação de obras novas e experimentais, de escritores como T. S. Eliot, Katherine Mansfield e a própira Virginia.

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