20 de agosto de 2021

Cora Coralina

 

Em 20 de agosto de 1889, poucos meses antes da proclamação da República, nascia na cidade de Goiás Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, mais conhecida pelo seu pseudônimo literário, Cora Coralina. Dona de um estilo próprio, marcado pelo uso de linguagem e temas do cotidiano, a poeta e contista só publicou seu primeiro livro em 1965, aos 76 anos, embora escrevesse desde a adolescência.
Embora fosse filha de um desembargador, ela só estudou até a terceira série do primário e começou a escrever seus primeiros textos aos 14 anos, mais tarde começando a publicá-los em jornais. O nome Cora Coralina surgiu pela primeira vez em 1910, quando o Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás publicou um de seus contos, “Tragédia na roça”. No ano seguinte, ela fugiu com um advogado divorciado, Cantídio Tolentino Bretas, e foi morar com ele no interior de São Paulo. Chegou a ser convidada para participar da Semana de Arte Moderna, em 1922, mas o marido não permitiu. Quando Cantídio morreu, em 1934, Cora começou a fazer doces e linguiça para sobreviver e sustentar os quatro filhos. Ela dizia considerar seus doces como obras melhores que os poemas, que continuou publicando. Chegou a se candidatar a vereadora em Andradina, onde vivia, em 1951, mas cinco anos depois voltou a sua cidade natal e só então aprendeu datilografia para preparar suas poesias. Assim conseguiu realizar o sonho de publicar seu primeiro livro. Mas foi só em 1980 que seu trabalho apareceu para o grande público, quando foi elogiada por Carlos Drummond de Andrade. Nos últimos anos, ganhou reconhecimento, participou de conferências e recebeu o título de doutora honoris causa pela UFG. Ela faleceu em Goiás, aos 95 anos, em 10 de abril de 1985.
“Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.”

Um comentário:

  1. “Senhor, fazei com que eu aceite
    minha pobreza tal como sempre foi.
    Que não sinta o que não tenho.
    Não lamente o que podia ter
    e se perdeu por caminhos errados
    e nunca mais voltou.
    Dai, Senhor, que minha Humildade
    seja como a chuva desejada
    caindo mansa,
    longa noite escura
    numa terra sedenta
    e num telhado velho.
    Que eu possa Agradecer a Vós,
    minha cama estreita,
    minhas coisinhas pobres,
    minha casa de chão,
    pedras e tábuas remontadas.
    E ter sempre um feixe de lenha
    debaixo do meu fogão de taipa,
    e acender, eu mesma,
    o fogo alegre da minha casa
    na manhã de um novo dia que começa.”
    Cora Coralina

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