7 de junho de 2014

Leminski Revive

Paulo Leminski há muito garantiu seu espaço na história da literatura brasileira. Nos últimos meses, entretanto, suas obras parecem ter caído também no gosto do povo, causando um misto de admiração e satisfação na comunidade literária. O livro Toda Poesia, que reúne toda obra poética de Leminski, e que foi lançado pela Companhia da Letras no começo de 2013 chegou às listas de mais vendidos das livrarias em todo o país, conseguindo desbancar o best seller Cinquenta Tons de Cinza, feito incomum para um livro de poesia brasileira.

"Em geral a poesia não é um gênero vendável - aliás, o Leminski também foi um bom comentarista de poesia, e numa certa passagem, de que me lembro como leitor, ele defendeu a ideia de que a poesia 'não vende', nos dois sentidos que a frase tem, um o de que erla nãso sde entrega, não entrega os pontos, e dois o de que ela não tem compradores. Daí que sua grande vendagem agora foi realmente um susto, um bom susto, é claro, mas um susto", diz Luis Augusto Fischer, crítico literário e professor de Literatura Brasileira da UFRGS.
Conforme explica o poeta e professor de Literatura da UFPR Marcelo Sandmann, o interesse pela obra de Leminski é anterior ao volume Todsa Poesia. "No entanto, há muitos anos já que boa parte de sua obra, especialmente a poética, estava fora dse catálogo. O que Toda Poesia fez foi suprir essa lacuna".
Leminski, que era filho de pai polonês e mãe negra, foi também um autor de "misturas" que deram certo. Escreveu diferentes gêneros como poesia, ensaios, romances, biografias e até letras de músicas. Trabalhou como professor, tradutor, crítico literário e publicitário. De acordo com Marcelo Sandmann, dos gêneros literários então correntes, o único que ele não praticou foi o de textos para teatro. "Leminski era um criador irrequieto, que adorava a palavra em todas as suas potencialidades. Daí ir do poema ao romance, do ensaio breve ao texto de propaganda, dos quadrinhos à tradução, da resenha crítidca à letra de canção".

 
No instante do encontro diga minha poesia e esqueça-me se for capaz siga e depois me diga quem ganhou aquela briga entre o quanto e o tanto faz.
Do livro Toda Poesia, de Paulo Leminski, publicado em 2013, pela Companhia das Letras.

O poeta curitibano fez parte do movimento concretista e, entre 1964 e 1966, teve alguns dos seus poemas incluídos na revisão Invenção, a principal do gênero. Leminski foi também bastante influenciado pelo universo da contracultura. Esses dois momentos foram importantes para sua produção, representando caminhos opostos: o capricho e o relaxo. O autor gostava de mudar e de experimentar e seus textos eram ora populares ora eruditos.
"Leminski, na poesia, nos ensaios e nas quatro biografias que escreveu, nos dá uma visão de mundo e um estilo únicos, distinguindo-se de escolas, tendências e grupos. Sua unicalidade e independência ideológica são notáveis", diz o escritor Domingos Pellegrinni, que foi amigo pessoal de Leminski. Pellegrini é autor da biografia Passeando por Paulo Leminski (não publicada).
Em 1975, Leminski lançou o romance experimental Catatau que, ainda hoje, conforme conta o escritor Domingos Pellegrini é "cultuado pelos que gostam de prosa experimental". Cinco anos depois publicou seu primeiro livro de poemas: Não Fosse Isso e Era Menos/ Não Fosse Tanto e Era Quase. Em 1983 escreveu sua primeira biografia, Bashô, que conta a vida do poeta japonês de mesmo nome, evidenciando seu interesse pela cultura oriental, o que também o levou a aventurar-se com os haicais - poemas de origem japonesa que se caracterizou por ter apenas três linhas e 17 sílabas.
Além de Bashô, começou a escrever ensaios biográficos sobre outros três personagens: o poeta brasileiro Cruz e Souza, Trótski e Jesus. As quatro biografias foram reunidas na obra Vida, lançada pela primeira vez em 1990 e que acaba de relançada pela Companhia das Letras.
Leminski morreu aos 44 anos, em 1989, em Curitiba. Sua poesia ainda vive.

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