"Em geral a poesia não é um gênero vendável - aliás, o Leminski também foi um bom comentarista de poesia, e numa certa passagem, de que me lembro como leitor, ele defendeu a ideia de que a poesia 'não vende', nos dois sentidos que a frase tem, um o de que erla nãso sde entrega, não entrega os pontos, e dois o de que ela não tem compradores. Daí que sua grande vendagem agora foi realmente um susto, um bom susto, é claro, mas um susto", diz Luis Augusto Fischer, crítico literário e professor de Literatura Brasileira da UFRGS.
Conforme explica o poeta e professor de Literatura da UFPR Marcelo Sandmann, o interesse pela obra de Leminski é anterior ao volume Todsa Poesia. "No entanto, há muitos anos já que boa parte de sua obra, especialmente a poética, estava fora dse catálogo. O que Toda Poesia fez foi suprir essa lacuna".
Leminski, que era filho de pai polonês e mãe negra, foi também um autor de "misturas" que deram certo. Escreveu diferentes gêneros como poesia, ensaios, romances, biografias e até letras de músicas. Trabalhou como professor, tradutor, crítico literário e publicitário. De acordo com Marcelo Sandmann, dos gêneros literários então correntes, o único que ele não praticou foi o de textos para teatro. "Leminski era um criador irrequieto, que adorava a palavra em todas as suas potencialidades. Daí ir do poema ao romance, do ensaio breve ao texto de propaganda, dos quadrinhos à tradução, da resenha crítidca à letra de canção".
Do livro Toda Poesia, de Paulo Leminski, publicado em 2013, pela Companhia das Letras.
O poeta curitibano fez parte do movimento concretista e, entre 1964 e 1966, teve alguns dos seus poemas incluídos na revisão Invenção, a principal do gênero. Leminski foi também bastante influenciado pelo universo da contracultura. Esses dois momentos foram importantes para sua produção, representando caminhos opostos: o capricho e o relaxo. O autor gostava de mudar e de experimentar e seus textos eram ora populares ora eruditos.
"Leminski, na poesia, nos ensaios e nas quatro biografias que escreveu, nos dá uma visão de mundo e um estilo únicos, distinguindo-se de escolas, tendências e grupos. Sua unicalidade e independência ideológica são notáveis", diz o escritor Domingos Pellegrinni, que foi amigo pessoal de Leminski. Pellegrini é autor da biografia Passeando por Paulo Leminski (não publicada).
Em 1975, Leminski lançou o romance experimental Catatau que, ainda hoje, conforme conta o escritor Domingos Pellegrini é "cultuado pelos que gostam de prosa experimental". Cinco anos depois publicou seu primeiro livro de poemas: Não Fosse Isso e Era Menos/ Não Fosse Tanto e Era Quase. Em 1983 escreveu sua primeira biografia, Bashô, que conta a vida do poeta japonês de mesmo nome, evidenciando seu interesse pela cultura oriental, o que também o levou a aventurar-se com os haicais - poemas de origem japonesa que se caracterizou por ter apenas três linhas e 17 sílabas.
Além de Bashô, começou a escrever ensaios biográficos sobre outros três personagens: o poeta brasileiro Cruz e Souza, Trótski e Jesus. As quatro biografias foram reunidas na obra Vida, lançada pela primeira vez em 1990 e que acaba de relançada pela Companhia das Letras.
Leminski morreu aos 44 anos, em 1989, em Curitiba. Sua poesia ainda vive.
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